Estava voltando da escola, com a mancha na camisa, se perguntando de onde ela veio, ia pedir para sua mãe lavá-la.
- Vixe, moleque! Essa mancha não sai, mas nem com reza braba! disse a mãe que, de todo jeito, tentou se livrar daquela insistente visitante.
No outro dia, acabou se esquecendo da maldita e foi para a escola com a mesma roupa do dia anterior. Três aulas passaram voando como migalhas de pão na mesa de uma praça e chega o intervalo.
Uma garota, cabisbaixa, comendo seu salgadinho, passa pelo menino, que a chama.
- Ei, Bruna! Tudo bom?
- Tudo... - diz a voz triste da menina.
- Olha, isso aqui apareceu ontem e não quer sair por nada no mundo.
- Hm... - a garotinha parece se animar. - Fazemos assim, me encontre depois da aula na saída, tá?
Mais outras três aulas voam como pombas na direção das migalhas de pão que, após um ventinho, estão agora ao alcance dos pássaros, e o garoto vai ao encontro de Bruna.
- Vamos tentar tirar isso, mas nem que seja com a língua! - diz a garota, animada, mas algo ainda a incomodava.
Baldes de água, água sanitária, sabão de pedra, sabão em pó, nada, nada tirava aquela presença negra da camisa do moleque. As crianças se sentam.
- Te falei. Com nada sai.
- Puxa vida, onde que foi que você se enfiou com essa joça?
Ficaram em silêncio por um tempo. Ele com um balde meio cheio na mão, ela com a mangueira.
- Escuta...
- Oi?
- Eu tava pensando... Ter falado com você daquele jeito e... O que eu fiz com os outros moleques... Foi errado... Não deveria ter feito o que fiz ontem... Desculpa...
- ... tudo bem...
Novamente, silêncio. Os dois querendo acabar com esse vazio. A menina não está mais triste. Ela liga a mangueira no rosto do garoto. Ele joga o conteúdo do balde na garota. Eles começam a brincar. A mancha da camisa some. Nada a ver com a brincadeira molhada das crianças.
Matheus (eu).
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